quarta-feira, abril 23, 2008

UM CENÁRIO COR-DE-ROSA (texto de Março de 2008)


As declarações do Primeiro-Ministro, quer na recente entrevista televisiva, quer no balanço dos 3 anos de mandato, demonstram antes de mais um carácter de egocentrismo que de qualquer modo não constitui uma novidade, mas demonstram também um alheamento da real situação do país. Os exercícios de matemática criativa do Eng.º José Sócrates pouco dizem àqueles que sofrem na pele a real perda de poder de compra, o desemprego, a perda de direitos sociais ou a dificuldade de acesso aos serviços de saúde; de facto, se fizermos uma análise do que melhorou no dia a dia dos portugueses desde que Sócrates é Primeiro-Ministro, a resposta terá de ser “nada”. Bem sei que vivemos tempos difíceis e que é necessário pôr as contas públicas em dia, mas o objectivo de uma governação não se pode cingir, como alguns socialistas no passado já afirmaram, à “obsessão pelo défice”, nomeadamente quando essa “obsessão” leva ao agravamento das desigualdades sociais e ao empobrecimento acelerado da classe média. O cenário cor de rosa pintado pelo Primeiro – Ministro é suportado por aquilo a que chamo “salpicos”, ou seja, por um conjunto de medidas avulsas, sempre anunciadas com muita pompa e circunstância e que à primeira vista encantam os cidadãos, mas quando esmiuçadas têm um alcance limitado e muitas vezes incipiente. Os sinais da chamada “sociedade civil” cada vez mais evidentes vão afastando o cor-de-rosa dando lugar a uns tons de cinzento.Em Portimão também se assiste ao discurso do cenário cor-de-rosa, do auto elogio, e das grandes campanhas de marketing. É inegável que o actual mandato é um mandato com uma enorme visibilidade, falta é fazer a análise das mais valias que toda esta politica de eventos efémeros, de festas cor-de-rosa, de ecrãs gigantes e de auto promoção do Sr. Presidente da Câmara trouxeram para os portimonenses e para o seu dia a dia. É que paralelamente a todo o despesismo associado a esta política de “show off”, os portimonenses continuam a pagar as taxas máximas IMI, e a sofrer agravamentos nas taxas de saneamento e nas tarifas da água. Para além disso uma análise mais atenta permite-nos reparar que os problemas estruturais da cidade continuam por resolver. Basta olharmos para o grave problema de trânsito e estacionamento, para os problemas de insegurança, para degradação do tecido económico, nomeadamente para as dificuldades sentidas pelas pequenas e médias empresas do Concelho, para a falta de solução para muitas das questões sociais nomeadamente no que se refere às infra-estruturas de apoio à 1ª infância e aos idosos. E onde está por exemplo a famigerada gare rodoviária? Onde está a solução para pôr fim à caótica situação do cemitério municipal? Onde estão os novos e verdadeiros espaços verdes? Onde está o desenvolvimento do ensino superior?Acresce ainda que os modelos financeiros seguidos para suportar boa parte dos investimentos municipais levantam sérias duvidas, reforçadas pela tentativa de criar uma imagem de bloco central, e resta ainda saber quais as consequências que trarão em termos do equilíbrio das contas municipais, situação referida nos próprios relatórios do revisor oficial de contas da autarquia.A lógica do auto-elogio, dos cenários cor-de-rosa e da bajulação conduz invariavelmente á perda da consciência crítica, e consequentemente a um afastamento da realidade que não augura nada de bom para o futuro próximo da nossa vida colectiva.



Pedro Martins

Vereador do PSD na Câmara Municipal de Portimão

in barlavento.online.pt 8 de Março de 2008 09:52

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